Agência Brasileira de Inteligência e Polícia Federal acionam parceiros de países da 'rota haitiana' para tentar conter imigração ilegal. Rota é operada por 'coiotes' que cobram dois mil dólares por pessoa e já exploram imigrantes árabes e asiáticos. 'É preciso encontrar solução urgente', diz presidente do comitê de refugiados.
Najla Passos
BRASÍLIA - A Agência Brasileira de Informação (Abin) e a Polícia Federal (PF) estão buscando a cooperação de serviços secretos de outros países latinoamericanos para tentar desbaratar a quadrilha responsável por facilitar a entrada ilegal de haitianos no país, por meio da fronteira com a Bolívia e com o Peru.
“Temos que acabar com o tráfego de pessoas e impedir que a atuação criminosa dos 'coiotes' se estabeleça na região”, diz a coordenadora-geral da Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, Mírian Medeiros da Silva.
'Coiotes' são os operadores da rota de imigração ilegal do Haiti para o Brasil. O principal roteiro deles passa pela República Dominicana, vizinha do Haiti, e atravessa Equador, Peru e Bolívia, até chegar ao Brasil.
De acordo com Miriam, os 'coiotes' cobram, em média, dois mil dólares dos imigrantes ilegais, que se submetem às condições mais precárias possíveis durante a viagem e a estadia nos países vizinhos.
“Relatos de haitianos que chegam ao país revelam que eles são agredidos e extorquidos no trajeto até aqui, principalmente na Bolívia. Por isso, o Brasil se torna o paraíso, com seu povo extremamente acolhedor”, diz o senador Aníbal Diniz (PT-AC).
De acordo com o ministério das Relações Exteriores, a atuação dos 'coiotes' é facilitada, principalmente, porque, ao contrário do Brasil, os países das paradas anteriores não exigem visto de entrada para haitianos. A exceção é a República Dominicana que tem deportado os haitianos que entram ilegalmente no país.
“Desde fevereiro, estamos tentando solucionar o problema. Tivemos conversas promissoras com o Peru, que chegou a se comprometer a cobrar o visto, mas o Equador se nega a cobrar visto de qualquer imigrante”, esclarece o diretor do Departamento de Imigração do ministério, Rodrigo do Amaral Souza.
Fronteira aberta
O secretário-executivo do Ministério de Justiça e presidente do Comitê Nacional para Refugiados, Luiz Paulo Teles Barreto, acrescenta que os membros da quadrilha são os mesmo coiotes que ganham a vida levando latinoamericanos para os Estados Unidos, em condições tão precárias que, algumas vezes, acabam morrendo.
Barreto alerta que, além dos haitianos, eles têm oferecidos os serviços para outros estrangeiros que almejam entrar no país, como asiáticos e árabes. “Com o crescimento da economia brasileira, os coiotes estão explorando essa nova rota de tráfego de pessoas. É preciso encontrar uma solução urgente para o problema”, diz ele.
Exemplo é o crescimento da exportação da carne brasileira para países árabes, que exigem que o abate de animais se dê dentro das normas estabelecidas pelo Islã. “Com isso, muitos afegãos e paquistaneses estão vindo trabalhar no Brasil e, muitas vezes, só querem o visto quando já entraram e já estão empregados”, conta o secretário-executivo.
Ajuda humanitária
A imigração ilegal de haitianos foi tema de uma audiência pública no Senado na última semana de trabalho dos parlamentares antes as férias. No debate, o senador Cristóvam Buarque (PDT-DF) defendeu que o país empreenda seus esforços para que, no futuro, também não precise fazer controle das fronteiras. “Se temos mobilidade para mercadorias, por que não podemos ter para as pessoas?”, questionou.
Já o senador Jorge Vianna (PT-AC), cujo irmão, Tião Viana, é governador do Acre, sugeriu que o governo brasileiro institua uma política para receber entre 10 e 30 mil haitianos, pela porta da frente do país, legalmente, sem estimular a atuação criminosa dos coiotes, e garantindo a segurança dessa população. “Seria um grande gesto humanitário”, defendeu.
O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) propôs a revisão imediata da Lei de Imigração, para torná-la mais atual e, com isso, facilitar a entrada de vítimas de catástrofes naturais ou econômicas, como é o caso dos haitianos, de forma legal no país. “Os latinos vem para o Brasil, hoje, como os africanos vão para a Europa, buscar uma vida melhor”, comparou.
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