Segundo Pape[1]
(2005), o terrorismo suicida é considerado parte fundamental de um esforço
estratégico para alcançar determinados objetivos políticos, através da ameaça e
imprevisibilidade, buscando o domínio territorial. Apesar de que a maioria da
população mundial não compreenda sua conduta, ela não representa a
individualidade do imolado, mas sim a de sua coletividade.
De acordo com diversos
pesquisadores, o indivíduo muitas vezes pode ser induzido ou doutrinado no sentido
de uma lógica que encontrará prazeres inatingíveis em outro plano espiritual,
somado a compensações financeiras que amenizam as dificuldades vividas na
atualidade por sua família.
A busca de fundamentos
psicológicos tem sido criticada por muitos autores, dentro da própria ciência
psicológica. Kruglanski e Fishman[2]
(2006) citam duas perspectivas de abordagem do terrorismo: a primeira que é uma
síndrome, com aspectos psicopatológicos, e a segunda que faz parte de uma
estratégia racional com objetivos sociais e políticos. Notadamente pela
pesquisa acadêmica, é incipiente o suporte empírico para a psicopatologia
(POST, 2005).
Desta maneira, o
terrorista suicida é influenciado por fatores culturais, fatores situacionais,
doutrinas e fatores de personalidade. Cabe aos Estados atuarem no sentido de
negar essa influência racional, econômica, política e psicológica, dentro da
lógica que pode ser compreendida[3].
A abordagem deve
entender o lado prático e o lado espiritual, sendo econômico pela praticidade
comparado ao dano causado, alimentando a mídia que propaga o fato, com o
denominado oxigênio da publicidade, bastando encontrar o perpetrador adequado.
O perfil do terrorista
suicida não é o de um psicopata ou de um bandido, como muitos acreditam.
Normalmente ele é um ser humano como qualquer outro, com princípios morais e
religiosos.
O psiquiatra mulçumano
Dr. Eyad Sarraj[4]
acrescenta que os terroristas islâmicos são "geralmente pessoas tímidas,
introvertidas e não violentas, de uma forma geral"[5].
Segundo o Dr. Jarrold
Post[6],
seus estudos indicam que a principal motivação é de natureza social, baseado na
necessidade de se pertencer a um grupo que o aprove, e, para atingir o
reconhecimento desse grupo, sua missão torna-se o objetivo mais valioso de sua
vida, sentindo-se socialmente relevantes para uma causa, principalmente com a
possibilidade de se tornarem mártires, e jamais serem esquecidos.
Em relação ao lado
espiritual, faz-se necessário o preparo psicológico e militar, sendo os valores
religiosos cruciais. Segundo Durkheim[7], o
suicídio altruísta se encaixa nos perfis dos terroristas que se imolam segundos
antes de causar a matança de terceiros, sendo que para os mesmos, morrer é um
dever. Morrem felizes, de forma espetacular e com o sentimento de dever cumpridos,
racionalmente satisfeitos pelo cumprimento de suas missões. Caso não cumpram
esse dever, serão desonrados e punidos com sanções religiosas e sociais.
Historicamente é usado para forçar a retirada de forças interventoras pelos nacionais cujo país é
ocupado, porém, muitas vezes, existem objetivos adicionais, como o Hamas ou a
al-Qaeda, que lutam pela implantação de estados teocráticos.
Ainda conforme Pape
(2005), entre 1980 e 2003 ocorreram 315 ataques suicidas no mundo, em quase a
totalidade estava ligada a uma campanha de organização terrorista, sendo que
somente 14 foram atos individuais, como “lobos solitários”[8], e
todas as demais aconteceram como táticas de uma estratégia maior inseridas no
contexto de um plano terrorista. Dentre estes atos, que representaram 3% dos
atentados no período, o resultado produzido foi de 48% de vítimas fatais de
todo o planeta, sendo vinte vezes mais eficazes que outras formas de terror.
Apesar de o terrorismo
suicida ocorrer baseado em doutrinas religiosas, que induz homens e mulheres a
se imolarem, inegavelmente são peças de uma estratégia, são atos políticos, que
visam à pressão de determinado ente político a fazer ou deixar de fazer algo.
Como citado anteriormente, existem exceções, casos em que ações independentes,
formando uma linha de exceção, como no caso dos “lobos solitários”, que muitas
vezes também são confundidos com “spree killers”[9],
que cometem assassinatos em massa e consequentemente acabam mortos pelas forças
de segurança.
Conforme apresentado
acima, a afirmação de que “terroristas são atores racionais” é uma hipótese
verdadeira, que possui algumas exceções em casos que podem ser detectados após
uma análise mais profunda. Não se deve esquecer, que dentro da cultura
religiosa, eles deixam o convívio da terra como heróis de uma causa, e vão à
busca de seus prêmios em outra vida, deixando também um legado honrado para sua
família.
[1]
PAPE, Robert. Dying to win – the strategic logic of suicide terrorism.
[2]
KRUGLANSKI, A. W. & FISHMAN, S. 2006. The Psychology of Terrorism :
"Syndrome" vs. "Tool" Perspectives. Terrorism and
Political Violence, Philadelphia, v. 18, n. 2, p. 193-215.
[6]
George Washington University, e ex-chefe da Central Intelligence Agency's
Center for Analysis of Personality and Political Behavior in Terrorism
[8]
A lone Wolf or lone-wolf fighter is someone who commits or prepares for, or is
suspected of committing or preparing for, violent acts in support of some
group, movement, or ideology, but who does so alone, outside of any command
structure and without material assistance from any group.
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