Will Grant
BBC News, Cidade do México
Atualizado em 10 de janeiro, 2012 - 14:03 (Brasília)
16:03 GMT
Guzmán lidera o cartel de Sinaloa no México, muitas vezes descrito como
a mais poderosa organização de tráfico de drogas no Hemisfério Ocidental.
O cartel de Sinaloa controla grande parte do fluxo de cocaína, maconha e
metanfetaminas para os Estados Unidos por ar, terra e mar e teria ramificações
em até 50 países.
El Chapo, ou Baixinho, foi preso em 1993, mas escapou de uma prisão de
segurança máxima dentro de um cesto de roupa suja oito anos depois,
envergonhando e enganando as autoridades desde então.
O Departamento de Estado dos EUA ofereceu uma recompensa de até US$ 5
milhões (R$ 9,2 milhões) por informações que levem à sua prisão.
'Vivo ou morto'
Nos últimos meses, o governo mexicano aumentou a pressão sobre Guzmán,
que teria cerca de 50 anos de idade, e sua organização.
Diversos de seus homens de confiança e soldados do tráfico foram presos,
incluindo seu suposto chefe de segurança, Felipe Cabrera Sarabia, conhecido
como "O Engenheiro".
Um artigo publicado em outubro do ano passado pelo jornal The Washington Post disse que o México criou três equipes
de elite, da Marinha, Exército e Polícia Federal, dedicadas a capturar Guzmán,
vivo ou morto.
Em um ano de eleições no México, certamente seria conveniente para o
governista Partido da Ação Nacional (PAN) encontrá-lo antes que os eleitores
cheguem às urnas, em julho.
Com a segurança na fronteira também ocupando um lugar de destaque nas eleições
americanas, principalmente nos Estados da Califórnia, Texas e Arizona, o
governo Obama apreciaria a prisão de uma figura de tamanha proeminência.
Será que isso significa que o cerco está se fechando em torno do
traficante bilionário?
"Eles sabem mais ou menos onde ele está", diz Malcolm Beith,
autor deThe Last Narco, livro sobre a
procura por Guzmán.
"Mas chegar lá, montar a operação e tratar a prisão de El Chapo
como prioridade já é outra coisa."
Beith diz que apesar de alguns traficantes de nível médio do cartel de
Sinaloa já terem sido presos, a captura de Guzmán faria toda a diferença para a
manchada reputação do PAN.
Busca hi-tech
O PAN parece fadado a perder as eleições para o partido que governou o
país durante 70 anos, o Partido Revolucionário Institucional (PRI).
"Politicamente, prender El Chapo seria um grande impulso para o
governo. Isso permitiria a eles chegar ao pleito recebendo menos críticas. As
pessoas ainda falam de um pacto entre o governo e o cartel de Sinaloa. A prisão
de Guzman calaria os críticos nessa questão", diz Beith.
Mas não é fácil chegar até Guzmán. Algumas das tecnologias mais
avançadas de vigilância e espionagem do Exército dos EUA, incluindo caças
não-tripulados, estão varrendo o espaço aéreo mexicano tentando encontrá-lo.
Acredita-se que ele esteja vivendo nas isoladas regiões montanhosas dos
Estados de Sinaloa, Durango e Chihuahua, com um exército de mercenários armados
para protegê-lo, além de contar com uma vasta rede de informantes dentro das
forças de segurança.
Para o ex-vice-procurador-geral do México Samuel Gonzalez Ruiz, o
desafio enfrentado pelo governo do México para capturar Guzmán é parecido com o
que foi transposto pelos EUA para encontrar Osama Bin Laden.
El Chapo Guzmán é muitas vezes comparado a Pablo Escobar, o traficante
colombiano que foi morto em 1993, mas Gonzalez diz que há diferenças claras
entre os dois casos.
"(A caça por Escobar) foi uma busca muito intensa realizada ao
longo de dois anos em uma área bem definida que ele controlava, Medellín. Aqui,
as autoridades mexicanas enfrentam um desafio bem diferente."
Segundo ele, não é apenas uma questão de vontade política, mas de
metodologia e de coleta de inteligência.
Gangue rival
As autoridades mexicanas se recusaram a dar informações sobre as buscas
por Guzmán quando seu suposto chefe de segurança, Felipe Cabrera Sarabia, foi
exibido para as câmeras, preso, em dezembro.
A única declaração foi que a captura de Cabrera iria "afetar a
estrutura e liderança do cartel de Sinaloa".
Guzmán é considerado um homem pragmático, que cria alianças forjadas com
sangue e casamentos, enquanto defende ferozmente suas rotas de tráfico de
cartéis rivais.
Ele usa sua vasta riqueza para conseguir apoio entre agricultores pobres
e, segundo Malcolm Beith, onde não é visto como herói, ele é temido pelo
tratamento brutal que dá a seus inimigos.
"O governo sempre disse que ele é uma figura simbólica, mas ele é
mais que isso. Quando você pergunta em Sinaloa, vê o poder que o nome dele tem.
Ele ainda tem muita influência", diz Beith.
Guzmán também é ousado. Em setembro de 2011, sua esposa, uma cidadã
americana e ex-miss, teria cruzado a fronteira para dar à luz gêmeos antes de
voltar ao México sem ser interrogada pelas autoridades uma vez sequer.
Ao longo do último ano, no entanto, Guzmán foi pressionado não só pelas
autoridades, mas também por grupos rivais, especialmente o cartel Los Zetas,
que passou a fazer incursões em áreas previamente consideradas seu território.
Mas ainda assim El Chapo ainda é considerado o traficante número um do México.
Segundo o analista de segurança Jorge Chabat, para que sua prisão ou
morte tenha algum valor eleitoral no país, é preciso que isso aconteça no
momento certo.
"Se o presidente Calderón e o candidato do PAN quiserem se
beneficiar politicamente de El Chapo Guzmán, eles precisam prendê-lo em
abril."
Nenhum comentário:
Postar um comentário