RIO - O governo brasileiro pediu
ajuda à polícia peruana para enfrentar as quadrilhas dedicadas ao tráfico de
pessoas na fronteira norte do país. O ministro interino da Justiça, Luiz Paulo
Barreto, alertou que, além de haitianos, grupos menores de muçulmanos,
incluindo afegãos, já entraram no Brasil pelo mesmo esquema, operado pelos
"coiotes" mexicanos, conhecidos no país por introduzir ilegalmente
brasileiros e outros imigrantes pela fronteira dos Estados Unidos.
Ao contrário dos haitianos, que estão recebendo
vistos humanitários, o governo age com rigor contra o tráfico de muçulmanos.
Nos últimos dias, cerca de 100 deles, entre paquistaneses, indonésios e
afegãos, foram deportados. Luiz Paulo Barreto disse que, para tentar burlar a
polícia de fronteira, eles alegaram que pretendiam trabalhar com o abate halal,
obrigação imposta a frigoríficos brasileiros que exportam carne para países
árabes.
- Os frigoríficos, de fato, chegaram
a contratar trabalhadores especializados no abate halal, mas não os grupos que
chegaram recentemente. Eles queriam apenas um pretexto para entrar - disse
Barreto, que é representante do Ministério da Justiça no Comitê Nacional para
os Refugiados (Conare).
Em poucos dias, 550 haitianos entraram
no país
Dos últimos três dias de 2011 até
esta segunda-feira, cerca de 550 haitianos entraram ilegalmente no Brasil por
Brasileia, no Acre. A prefeitura do município estimava em 1.250 a quantidade de
imigrantes daquele país na cidade nesta segunda-feira. As autoridades de
Brasileia temem que a situação da cidade fique caótica. O processo, iniciado
depois do terremoto de janeiro de 2010 no Haiti, intensificou-se nos últimos
meses, estimulado pelo crescimento econômico do Brasil e pelas oportunidades
que o fenômeno oferece.
- Desde o jogo da seleção brasileira
em Porto Príncipe, os haitianos passaram a prestar a atenção no Brasil. Uma das
notícias que ouviram foi sobre a usina de Belo Monte, que iria contratar 25 mil
trabalhadores de uma só vez - disse Barreto.
A aposta no Brasil também teria
atraído os "coiotes". O ministro explicou que a atuação dessas
quadrilhas na fronteira brasileira foi rastreada pelo serviço de inteligência
da Polícia Federal e confirmada pelos próprios imigrantes:
- Os mexicanos oferecem a passagem
ainda no Haiti. Pelo que apuramos, cobram de US$ 2 mil a US$ 5 mil aos
interessados.
A rota, neste caso, começa pelo ar.
Uma companhia aérea, segundo Barreto, opera voos regulares entre Porto Príncipe
e Quito, no Equador, com escala em Santo Domingo, na República Dominicana. De
Quito, os haitianos seguem pelo Peru, de carro, ônibus ou caminhão, até
Tabatinga, no Amazonas, e Brasileia, no Acre, disse o ministro:
- O Equador tem uma tradição de
cidadania global. Não exige visto de nenhum país do mundo. Sabendo disso, os
haitianos entram na América do Sul por Quito.
Embaixada do Peru confirma pedido
Logo que a presença dos coiotes foi
identificada, o governo brasileiro pediu ajuda ao Peru para enfrentar o
problema. O porta-voz da Embaixada peruana em Brasília, Raul Menezes, confirmou
pelo menos duas reuniões entre os ministérios das Relações Exteriores dos dois
países para discutir o assunto. Mas disse que não estava autorizado a revelar
os detalhes dos encontros.
O governo brasileiro, afirma Barreto,
não reconhece nos haitianos o status de refugiados políticos, por inexistir
comprovação de eventuais perseguições sofridas por eles. Porém, optou por
mantê-los com vistos humanitários:
- A imigração é meramente econômica.
Eles não foram expulsos, mas o Brasil não quer incentivar uma diáspora no
Haiti. Entende que o país tem de ser reconstruído pelos próprios haitianos.
Até agora, o Brasil já concedeu 2 mil
vistos deste tipo a haitianos. Outros 2 mil estariam em fase de regularização,
concentrados basicamente no Acre e no Amazonas. Peru e Argentina também
aparecem como destino final do tráfico de pessoas para a América do Sul.
Dados colhidos pelo Ministério da
Justiça revelam que, desde 2008, chegaram ao Brasil cerca de 470 mil
imigrantes, que somaram-se a 1 milhão que já viviam aqui. Dos cerca de 4
milhões de brasileiros que viviam no exterior, 1 milhão retornou ao país no
mesmo período.
- A crise mundial, somada ao
crescimento econômico do país, favoreceu o fenômeno. Os estrangeiros, muitos
deles mão de obra especializada, vêm a reboque do desenvolvimento industrial.
A mão de obra que chega de fora,
avalia o ministro, é sazonal, associada ao investimento estrangeiro em
determinados setores na economia, como o petróleo e gás, responsável pela
entrada no Brasil de trabalhadores qualificados das Filipinas, China e Taiwan,
e a indústria automobilística, que tem atraído chineses e coreanos.
do jornal oaltoacre.com, o seu jornal da fronteira
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