Debatida em seminário
da Febraban sobre lavagem de dinheiro, questão facilita envio de recursos a
grupos extremistas. A falta de uma legislação específica e atualizada
sobre terrorismo foi o principal foco dos debates no dia de abertura do primeiro
congresso sobre lavagem de dinheiro e financiamento de grupos extremistas organizado
pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo. A questão pode
custar ao Brasil a exclusão do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi),
órgão multinacional que atua na prevenção desses crimes.
Leia
também:
Além de uma proposta básica de "repúdio ao
terrorismo e ao racismo", a Constituição conta apenas com a Lei de
Segurança Nacional, criada no final da ditadura militar, em 1983, para lidar
com questões acerca do terrorismo. "Mas a lei foi feita em um contexto
específico e não dá conta do terrorismo moderno e suas complexidades",
explica José Robalinho Cavalcanti, procurador da República.
O vácuo legal dificulta que bancos tomem atitudes
efetivas para monitorar recursos que possam estar ligados a grupos extremistas
internacionais. "O Brasil evoluiu muito na área de prevenção à lavagem de
dinheiro, mas são coisas diferentes", explica Robalinho. "Enquanto a
lavagem necessariamente é decorrente de um crime anterior, o financiamento ao
terrorismo, na maioria das vezes, é feito com recursos obtidos de formas
legais", explica.
Isso, na opinião do especialista, torna a detecção
do fato mais difícil e complexa. "E, como não temos leis que definam o que
é terrorismo ou financiamento do mesmo, as instituições ficam limitadas",
diz. "O sistema bancário, sozinho, não consegue diferenciar uma transação
normal de outra que financia o terrorismo, é preciso que ele tenha integração
com setores de inteligencia do governo – e para isso é importante que haja um
marco legal", diz Rachel Irmen, assessora política do tesouro americano,
que esteve presente ao evento da Febraban.
Esse é o ponto mais crítico entre aqueles que deram
ao Brasil uma má avaliação no último relatório do Gafi, publicado em 2010.
"Foram três notas ruins, mas duas delas são fáceis de contornar – uma
diz respeito a especificações de diligência devida [investigação contábil],
cujas normas já estão 'no forno', e outra fala sobre a lei da lavagem de dinheiro,
que já existe e só precisa ser aprimorada", explica Bernardo Mota, chefe
de gabinete do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão que
os bancos avisam quando percebem uma movimentação suspeita. "O pior ponto
[criticado no relatório] é a ausência de leis sobre terrorismo",
diz.
O Gafi não tem autoridade para impor sanções a
países membros, como faz a ONU. Mas o órgão tem poder para sinalizar a mercados
internacionais quais são os países confiáveis em aspectos como lavagem de
dinheiro e financiamento ao terrorismo. "Não há consenso sobre o tema em
Brasília, para que uma lei pudesse ser feita, além do mais o Congresso não
trata isso como prioridade", acredita Mota.
O Brasil tem até junho de 2012 para enviar ao Gafi
um relatório no qual deve mostrar evolução nos quesitos criticados. Do
contrário, sofreria punições que podem chegar até à exclusão do órgão. “Vamos
sanar essas carências, não pensamos na hipótese da exclusão do Gafi”, diz
Mota.
O congresso da Febraban termina na tarde desta
terça-feira. Além de representantes da federação, participam do evento
órgãos como Gafi, Coaf, Ministério Público Federal, Tesouro dos EUA, Federal
Bureau of Investigations (FBI), Banco Central, BM&FBovespa e Comissão de
Valores Mobiliários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário