1. Conceitos e definições
O terrorismo não é um
fenômeno hodierno, seu surgimento remontaria ao século XVII na França[i],
e desde então vem ocorrendo sob diversas formas em épocas distintas. Da
maneira como se apresentou na última década pode indicar uma nova tendência
caracterizadora não apenas dos conflitos beligerantes no cenário mundial, mas
sim como um perigo à segurança internacional, que tem colocado as nações do
mundo em estado de alerta frente às possíveis ameaças assimétricas[ii].
Bem explicita o General
Álvaro Pinheiro em “ISRAEL, HEZBOLLAH E
O CONFLITO ASSIMÉTRICO[iii]”,
onde discorre que uma campanha baseada na “Assimetria” detém seu planejamento
materializado nos conceitos e fundamentos da “Guerra Irregular”:
Este
tipo de confrontação bélica, que também pode ser identificado como “Guerra Não-convencional”, impõe a
seleção de um ambiente operacional que restrinja de forma significativa a
utilização dos meios bélicos do oponente “bem mais forte”, particularmente
aqueles meios que possuem elevado nível científico-tecnológico. Os elementos
básicos que caracterizam esta forma de combate são a tática/técnica de
guerrilhas, a subversão, a sabotagem e, não raro, o terrorismo.
A DOUTRINA
BÁSICA DA MARINHA DO BRASIL (2004) discorre sobre a definição de “Guerra
Assimétrica” e “Assimetria”, sendo ainda mais clara quanto ao emprego da
violência pelo lado mais fraco na contenda:
A guerra
assimétrica é empregada, genericamente, por aquele que se encontra muito
inferiorizado em meios de combate, em relação aos de seu oponente. A assimetria
se refere ao desbalanceamento extremo de forças. Para o mais forte, a guerra
assimétrica é traduzida como forma ilegítima de violência, especialmente quando
voltada a danos civis. Para o mais fraco, é uma forma de combate. Os atos terroristas,
os ataques aos sistemas informatizados e a sabotagem são algumas formas de
guerra assimétrica.
Os acontecimentos trágicos
ocorridos em 11 de setembro de 2001 foram um marco na história da humanidade,
tendo o mundo presenciado a confrontação de grupos radicais, com um ínfimo
efetivo de suicidas, enfrentando a nação com maior poderio militar da
atualidade, os Estados Unidos da América, causando danos irreparáveis, ceifando
quase três mil vidas de 91 nações, cuja maioria esmagadora era de população
civil, empregando como estratégia o terrorismo global.
A incerteza começa a
pairar sobre o mundo, a população mundial assistiu estarrecida a ruína das
Torres Gêmeas, símbolo do poder econômico americano e do capitalismo ocidental.
Se a nação mais poderosa do mundo estava sobre ataque e não tinha capacidade de
reação, todas as fronteiras mundiais haviam caído e um novo terrorismo surgia,
com amplitude global, tendendo a se tornar uma “guerra sem limites[iv]”.
Diversas
são as definições encontradas para o Terrorismo, sendo interessante analisarmos
as seguintes demonstradas abaixo extraídas da doutrina americana:
Violência
premeditada e politicamente motivada, perpetrada contra alvos não combatentes e
praticada por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, geralmente
objetivando influenciar uma audiência (Departamento de Estado dos EUA).
O
calculado uso da violência ou da ameaça de sua utilização para inculcar medo
com a intenção de coagir ou intimidar governos ou sociedades, a fim de
conseguir objetivos, geralmente políticos, religiosos ou ideológicos
(Departamento de Defesa dos EUA).
Uso
ilegal da força ou da violência, física ou psicológica, contra pessoas ou
propriedades com o propósito de intimidar ou coagir um governo, a população
civil ou um segmento da sociedade, a fim de alcançar objetivos políticos,
sociais, econômicos ou ecológicos (FBI).
No
Brasil, a definição genérica elaborada pelo GT da CREDEN[v] classifica
como terrorismo todo:
“ato
com motivação política ou religiosa, que emprega força ou violência física ou
psicológica, para infundir terror, intimidando ou coagindo as instituições
nacionais, a população ou um segmento da sociedade”.
A ABIN segue a definição específica elaborada pela CREDEN. Nela, define-se terrorismo
como:
“ato
de devastar, saquear, explodir bombas, seqüestrar, incendiar, depredar ou
praticar atentado pessoal ou sabotagem, causando perigo efetivo ou dano a
pessoas ou bens, por indivíduos ou grupos, com emprego da força ou violência,
física ou psicológica, por motivo de facciosismo político, religioso,
étnico/racial ou ideológico, para infundir terror com o propósito de intimidar
ou coagir um governo, a população civil ou um segmento da sociedade, a fim de
alcançar objetivos políticos ou sociais”.
Fica
patente que mesmo com algumas diferenças, resultantes de parâmetros específicos
da doutrina nacional ou do foco de atuação da agência oficial, encontramos
similaridades entre as definições, se destacando: o uso da violência e da força
planejados contra população civil, motivações políticas, atos imprevisíveis,
cruéis e destrutivos.
[i] A primeira vez em que surgiu o termo
“terrorismo” foi com referência ao chamado período do Terror na Revolução
Francesa de 1789. O Dicionário da Academia Francesa, na edição de 1798,
assinala o termo como significando “sistema ou governo baseado no terror”. O
período do Terror foi a época da Revolução Francesa em que governos ditatoriais
guilhotinaram 12.000 pessoas, primeiro da direita e depois da esquerda. O
terrorismo entra na linguagem, portanto, como terrorismo de Estado, que já era
sua forma quase exclusiva antes de ele ser “batizado”. Na Grécia antiga,
o historiador militar Xenofonte já aconselhava a prática de assassínios em
países potencialmente adversários, para criar pânico entre a população
potencialmente inimiga. Os imperadores romanos e os padres da Inquisição da
Igreja Católica Romana são bem conhecidos pelas suas atrocidades contra
recalcitrantes. Nunca é demais ressaltar, além disso, que a escravidão só pôde
sobreviver na Antiguidade e nas Américas coloniais por causa do regime de
terror, estatal e privado, a que os escravos eram submetidos.
[ii] Uma ameaça assimétrica
significa que um dos lados não tem capacidade para enfrentar o seu inimigo de
forma convencional, usando as mesmas armas que ele (é o que acontece, por
exemplo, com os grupos terroristas) e, portanto, recorre a técnicas para
contornar a superioridade tecnológica do outro. O elemento surpresa num ataque
pode fazer parte dessas técnicas. Jane's Intelligence Review (Oct, 2000).
[iii] Abordagens assimétricas são tentativas de iludir ou minar forças dos EUA, enquanto exploram
suas fraquezas, usando métodos que diferem muito do método operacional
estadunidense… geralmente buscam um impacto psicológico maior, tal como o
choque ou a confusão, que afete a iniciativa, a liberdade de ação ou a força de
vontade do oponente. Métodos assimétricos exigem uma apreciação das
vulnerabilidades do oponente. Abordagens assimétricas muitas vezes empregam
táticas novas ou não tradicionais, assim como armas ou tecnologias, e podem ser
aplicadas a todos os níveis de guerra — estratégico, operacional e tático — e
por todo o espectro das operações militares. JOINT STRATEGY REVIEW (WASHINGTON,
DC: CJCS, 1999).
[v] Grupo de Trabalho (GT) constituído pela Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional (Creden), do Conselho de Governo (organismo do Poder Executivo), composta por
integrantes de vários ministérios civis e militares, – que tem a atribuição de
analisar, estudar e propor soluções de
governo para temas de segurança –, elaborou três definições de terrorismo, que
ainda estão em estudo.
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