Em audiência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta segunda-feira (9), o professor Márcio Paulo Buzanelli salientou que é falsa a impressão de que o terrorismo é uma ameaça distante para o Brasil e alertou para a visibilidade que eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 terão para eventuais interessados em realizar atentados.
Segundo Buzanelli, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a globalização e a facilidade das viagens aéreas facilitam a realização de ataques em qualquer parte, e o Brasil precisa observar essas ameaças e dar a resposta devida.
Buzanelli observou uma tendência clara no sentido da manutenção da ameaça, especialmente da parte de grupos islâmicos radicais que têm visto o terrorismo dar certo. Atualmente, a estratégia da Al-Qaeda e de outras organizações terroristas tem se voltado a numerosos e pequenos atentados, alertou.
Além da preocupação com os grandes eventos, incluindo a visita do Papa em 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, o especialista não descartou a possibilidade de brasileiros envolvidos na exploração de petróleo na África Ocidental se tornarem alvos de ataque. Buzanelli criticou o fato de o Código Penal brasileiro, que chamou de antiquado, ainda não tipificar o terrorismo, apesar de o país ser signatário de convenção da ONU nesse sentido.
Guerra cibernética
O general-de-divisão José Carlos dos Santos, chefe do Centro de Defesa Cibernética (CDCiber), citou a opinião de Richard Clarke, que considera que a guerra cibernética já é uma realidade e inclui todas as fases de uma guerra convencional. Explicando a Estratégia Nacional de Defesa, o general esclareceu que coube ao Exército a coordenação da defesa cibernética, por ter uma presença mais distribuída pelo território, mas salientou que a segurança de computadores e redes é uma questão transversal que envolve toda a sociedade.
José Carlos dos Santos lamentou que persista a carência em investimentos em ciência e tecnologia no Brasil. Conforme lembrou, a Índia investiu pesadamente no setor e tem colhido bons resultados na última década.
Jorge Henrique Cabral Fernandes, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB), destacou o conjunto de transformações na sociedade cada vez mais dependente de computadores e software, o que chamou de criação de uma “nova virtualidade”. Em sua opinião, isso torna inevitável a presença de vulnerabilidades.
Para Fernandes, os sistemas militares e de defesa sofrem de problemas semelhantes no controle da distribuição de energia e na supervisão de transporte, por exemplo. Segundo ele, isso se mostra de maneira mais acentuada em nações com sistema de defesa altamente desenvolvido.
Drogas
Bo Mathiasen, representante regional para o Cone Sul do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), mostrou números que revelam o deslocamento do mercado de drogas nos últimos dez anos. Enquanto verificou-se a redução no consumo de cocaína nos Estados Unidos, outros mercados cresceram, o que o especialista atribuiu à mudança de hábitos e à queda do preço da substância.
Segundo Mathiasen, persistem os desafios de se combater a corrupção e a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, inclusive no que possa exercer influência em campanhas políticas e infiltrar-se em setores produtivos formais. Em sua opinião, é preciso estabelecer uma responsabilidade compartilhada entre países produtores e consumidores, com elaboração de programas de prevenção direcionados à população de 15 a 25 anos.
Fonte: JB online
Nenhum comentário:
Postar um comentário