por Nuno Tiago PintoNos últimos 18 anos morreram 1970 europeus em atentados terroristas dentro e fora da União Europeia. Entre eles estão 14 portugueses
Dezasseis mortos em Barcelona em Agosto de 2017. Oito vítimas em Londres em Junho do mesmo ano. Doze mortos em Berlim em Dezembro de 2016. Quatro vítimas em Bruxelas em Maio de 2014. Uma pessoa assassinada em Copenhaga em Fevereiro de 2015. Cinco mortos em Estocolmo em Abril de 2017. A lista podia continuar. Até se chegar a um ponto em que o cansaço e a frequência nos tornariam indiferentes. Até chegarmos a um número: 1.970. É esse o total das vítimas europeias do terrorismo entre 2000 e 2017.
A contabilidade foi apresentada este mês no Livro Branco e Negro do Terrorismo na Europa. Elaborado por iniciativa da eurodeputada espanhola Maite Pagazaurtundúa, o documento é mais do que um mero relatório estatístico. É um retrato detalhado que permite compreender um pouco melhor a vida na Europa nos últimos anos. Olhando para os grandes números, há desde logo uma conclusão a tirar: a maioria das vítimas europeias foram-no fora da Europa. Ao todo, 1.050 pessoas morreram em 26 países espalhados pelo mundo. Alguns são lugares longínquos como o Afeganistão (635 vítimas), a Indonésia (56), o Mali (26), o Paquistão (13) ou o Iraque (12). Mas outros são relativamente próximos, geográfica ou culturalmente, como a Turquia (13), a Tunísia (63) e Marrocos (5) ou os Estados Unidos (121).
Os mais cínicos dirão que o número não é assim tão grande. Que a esmagadora maioria das vítimas do terrorismo vive em países árabes, asiáticos ou africanos. E que sobre elas não há relatórios nem movimentos de indignação. Só a tal indiferença de quem muda de canal cada vez que há notícias de mais um atentado. O problema é que o número é, de facto, grande. Uma vítima que fosse já era demais - sobretudo quando falamos de um espaço que se quer de paz e liberdade. E não, não tem mal nenhum distinguirmos entre vítimas europeias e não europeias. Não se trata de dar valores diferentes à vida humana. Trata-se de sentir empatia por quem nos é mais próximo. Com quem mais nos identificamos. Quem temos mais probabilidades de visitar - e, por isso, de nos acontecer a nós. Como aqueles 14 nomes que encontramos ao percorrer a lista das 1970 vítimas, separados por datas e localidades:
- Nova Iorque, Estados Unidos, 11 de Setembro de 2001: João Aguiar Costa, 30 anos; Carlos da Costa, 41; António Rodrigues, 36; Manuel da Mota, 43; António Rocha, 34.
- Bali, Indonésia, 10 de Dezembro de 2002: Diogo Ribeirinho, 20.
- Cabul, Afeganistão, 18 de Novembro de 2005: João Pereira, 33.
- Sousse, Tunísia, 26 de Junho de 2015: Maria Moreira, 76.
- Paris, França, 13 de Novembro de 2015: Manuel Dias, 63; Précilia Correia, 35.
- Ouagadougou, Burkina Faso, 15 de Janeiro de 2016: António Basto, 52.
- Bamako, Mali, 18 de Junho de 2017: Gil Benido, 40.
- Barcelona, 17 de Agosto de 2017: Maria de Lurdes, 74; Maria Correia, 20.
Não são apenas números. São pessoas. Pais, mães, filhos, filhas, avós, tios, primos, amigos. Gente com deixou para trás um vazio impossível preencher. E cujas mortes aumentaram um dos grandes, senão o principal, sentimento motivador de massas dos nossos dias: o medo. O filósofo Fernando Savater descreve-o de forma brilhante num dos textos que acompanham o relatório: "Há duas maneiras de convencer alguém a seguir um determinado caminho que em condições normais não aceitaria: o suborno e a ameaça. Das duas, sem dúvida que a segunda é muito mais eficaz do que a primeira (...). Há uma explicação muito simples para isso: nem sempre sabemos com certeza qual o preço de alguém (...) mas estamos razoavelmente seguro sobre o que todos temem: a morte. Especialmente a morte que chega de surpresa, de forma devastadora e inopinada, sem que possamos enfrentá-la de forma heróica ou ao menos eficaz". Está aqui uma explicação para alguns acontecimentos na Europa nos últimos anos.
https://www.sabado.pt/opiniao/cronistas/nuno-tiago-pinto/detalhe/terrorismo-numeros-nomes-e-medo
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