Com a morte de Bin
Laden, há um ano, a Al-Qaeda perdeu seu líder máximo. Hoje, o perigo de
terrorismo vem de agentes isolados e de alguns discípulos da própria Al-Qaeda,
avaliam especialistas.
"Ele se ocupava sobretudo da própria segurança dentro de uma
casa tecnologicamente superprotegida. Desta forma, embora continuasse sendo uma
figura simbólica para a Al-Qaeda, Bin Laden não exercia, do ponto de vista
operacional, mais nenhuma influência no planejamento de atentados
terroristas", diz o especialista em terrorismo internacional Rolf Tophoven
à DW.
Perda de um líder
Depois do 11 de Setembro, Bin Laden se transformou acima de tudo
em fugitivo, tendo se tornado inútil para as operações da Al-Qaeda. Aquele que
tinha sido o rico financiador saudita da organização, acabou se transformando,
preso a seu esconderijo, em um risco oneroso, que consumia muitos recursos.
Imediatamente após sua morte, o especialista Ahmed Rashid escreveu no diário
alemão Berliner Zeitung: "Centenas de discípulos da Jihad estarão hoje de
luto, jurando que darão suas vidas para vingar a morte de Bin Laden".
No entanto,
mesmo do ponto de vista islâmico, a morte do líder acabou não servindo tanto
para a construção de uma lenda em torno de sua pessoa, nem tampouco para o
esperado efeito de mobilização entre radicais, previsto por Rashid e por outros
especialistas em segurança de todo o mundo. Este efeito, se é que ocorreu, se
deu de maneira muito limitada. "O que mudou foi que a Al-Qaeda perdeu uma
personalidade de liderança muito importante e até agora ninguém conseguiu
substituir o carisma de Osama Bin Laden", analisa o pesquisador do
assunto, Guido Steinberg.
Falta
de carisma de Al-Sawahiri
Hoje, destaca-se principalmente a ausência de líderes
identificáveis à frente da organização. Ao médico egípcio Aiman al-Sawahiri que
agia desde os anos 1990 como vice de Bin Laden, sendo considerado antes da
morte deste a cabeça estratégica da rede terrorista falta o carisma de seu
antecessor. "Osama bin Laden atraía, em função de sua personalidade,
muitos homens jovens tanto no mundo árabe quanto nos países ocidentais e no sul
da Ásia. Aiman al-Sawahiri não atrai ninguém. Ele é respeitado, mas não adorado
como Osama Bin Laden", diz Steinberg.
Além disso, o
equilíbrio de forças dentro da rede mudou em função da troca de liderança.
"Sawahiri é certamente tido como representante do braço egípcio da
organização, que por sua vez desconfia das outras ramificações, como por
exemplo da Al-Qaeda do Magreb", completa Steinberg.
O número dois entre os sucessores de Bin Laden é Abu Jahja al
Libi, considerado há muito o mentor religioso da organização. Ele chegou a ser
preso em 2002 pelos norte-americanos, tendo permanecido por três anos na prisão
de Bagram, no Afeganistão, mas acabou sendo libertado junto com outros
prisioneiros. No ano passado, pouco se ouviu a seu respeito, exceto através de
uma mensagem disseminada pela internet relacionada aos rebeldes líbios armados.
Novos e velhos centros de gravitação
Por precaução em relação à própria segurança, avaliam os
especialistas em terrorismo, é possível que as novas lideranças da Al-Qaeda
prefiram se manter no anonimato. Guido Steinberg lembra também da existência de
alguns graduados da organização, que se encontram em prisão domiciliar no Irã,
gozando contudo "de uma liberdade um pouco maior" desde 2009.
"Esta é a grande questão para os próximos meses e anos: até que ponto esta
''liderança iraniana'' da Al-Qaeda poderá assumir um papel de fato", diz
Steinberg.
Enquanto isso,
foram sendo formados novos centros de gravitação da Jihad. Do norte e sul do
Waziristão região localizada no noroeste do Paquistão, na fronteira com o
Afeganistão e de difícil controle, onde se supõe que ainda vivam muitos dos
membros da Al-Qaeda muitas pistas levam, segundo o especialista Rolf Tophoven,
ao Iraque. "No país," diz ele, "temos comandos da Al-Qaeda. Além
disso, temos também um novo núcleo: a Al-Qaeda na Península Árabe,
principalmente no Iêmen", completa. Ali, islâmicos armados se aproveitaram
dos tumultos políticos, travando há meses lutas armadas com as forças de
segurança do país. Temporariamente, os combatentes da Al-Qaeda conseguiram até
mesmo manter sob seu controle localidades inteiras no sul do Iêmen.
Discípulos da Al-Qaeda com planos próprios
Mas desde a morte de Bin Laden outras organizações terroristas vêm
chamando a atenção, entre elas a Boko Haram na Nigéria e a Al-Shabab na
Somália. A primeira, ativa na Nigéria e na região do Sahel, é considerada uma
seita islâmica radical, cuja meta principal é submeter a Nigéria, um país
multiétnico com mais de 160 milhões de habitantes, às leis islâmicas da Sharia.
O movimento foi responsabilizado pela morte de algumas centenas de cristãos na
Nigéria.
Já a Al-Shabab
controla parte da Somália, tendo assumido a autoria no passado de diversos
atentados a bomba em vários países africanos. Em fevereiro último, a
Intelceter, uma empresa norte-americana especializada na avaliação de sites
islâmicos, anunciou a fusão da Al-Shabab com a Al-Qaeda. Guido Steinberg
relativiza o fato: "Há de fato provas de contato com os discípulos da
Al-Qaeda, principalmente no Iêmen e na Argélia, mas organizações como a
Al-Shabab ou a Boko Haram não agem segundo instruções da Al-Qaeda". Estas
organizações, segundo ele, têm planos próprios, o que não as torna na realidade
menos perigosas, muito pelo contrário.
Agentes isolados na Europa
Um novo tipo de terrorista inspirado no islamismo surgiu nos
últimos tempos sobretudo na Europa. Em março último, Mohamed Merah, morto pela
polícia em Toulouse depois de ter assassinado sete pessoas, se autodenominava
um mujahidin próximo à Al-Qaeda. Arid U., condenado na Alemanha à prisão
perpétua, depois de ter matado em fevereiro último dois soldados no aeroporto
de Frankfurt, é categorizado pelos especialistas como praticante individual de
terrorismo de motivação islâmica.
Ou seja,
enquanto a Al-Qaeda perde forças no Afeganistão, devido à missão de forças
internacionais no país, e à morte de alguns de seus comandantes pelas forças
norte-americanas no Paquistão, o problema do terrorismo cresce na Europa,
aponta Rolf Tophoven: "Trata-se do guerrilheiro fanático da Jihad, que se
torna radical em parte através da internet e, cria sua própria célula
terrorista sem liderança de terceiros". A estimativa é que este grupo de
radicais seja de aproximadamente 400 pessoas em toda a União Europeia. A maioria
deles vive na Alemanha, França, Reino Unido e Bélgica, segundo Gilles de
Kerchove, encarregado de terrorismo da União Europeia.
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